O Banheiro – Millor Fernandes - Cultura Brasil

O Banheiro – Millor Fernandes

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Millor_Fernandes_por_Cynthia_Brito

          

Millor Fernandes  

16 agosto 1923, Rio de Janeiro 
27 marzo 2012, Rio de Janeiro 


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Il Bagno

Non è il lare l’ultimo ritiro dell’uomo civilizzato, la sua ultima fuga, l’ultimo canto dove può nascondere le proprie tristezze e i propri dolori. Non è il lare il castello dell’uomo. Il castello dell’uomo è il suo bagno. In un mondo tribolato, in un’epoca agitata, in una società senza governo, in una famiglia dissolta o dissoluta, solo il bagno è un angolo libero, solo questa dipendenza dalla casa e dal mondo dà all’uomo un sorso di tranquillità.

E’ lì che sogna le sue ultime fantasie e i suoi calcoli moribondi di pace e tranquillità.

Anticamente, in altre ere del mondo, c’erano giardini liberi, privati e pubblici, dove l’uomo poteva dedicarsi alla propria meditazione e preghiera.  Sono spariti i giardini pubblici, allora l’uomo è passato a vivere montato su mattonelle, avendo come illusione di foresta due o tre piante inscatolate non abbastanza grandi per coprire il suo corpo dalla furia distruttiva della prossimità forzata di altri uomini. Non trovando più le immensità delle piazze romane che gli davano un senso di solitudine; non avendo più i deserti, oggi divenuti abitabili, irrigati e popolati; mancandogli le grotte dei compagni di Chico de Assis, dove era possibile riflettere e ragionare, concludere e maturare, l’uomo ha cambiato idea, si è disperato ed ha ottenuto un solo istante di calma nel giorno che ha scoperto di nuovo il santuario dentro casa sua: il bagno.

Se non bussano alla porta altri uomini (poichè un lare, per definizione, è composto da moglie, marito, figlio, figlia e uno o un altro parente, vicino o lontano, tutti con le loro necessità fisiche e morali), lui, lì, e solo lì, per alcuni istanti, si nasconde, compie viaggi introspettivi, riflette, calcola e giudica. E’ solo con se stesso, tutto è segreto, nessuno lo interroga, gli mette pressione, lo forza, lo tenta, lo suggerisce, lo rapina.

E’ qui che il capo della casa, avendo già superato i quant’anni, guarda i capelli brizzolati, le macchie sulla fronte e riflette, senza testimoni né complici, sugli obbiettivi negativi dell’esistenza che lo stanno portando, sebbene ben riuscito nella vita pratica, a questo lento degrado fisico.

Esamina con calma la sua fisionomia, si mette di profilo, verifica il grado della sua obesità, riflette sulle vane glorie passate e decide di chiudere definitivamente le sue pretese sentimentali, ansia ogni volta maggiore e costante in un mondo allagato di instabilità.

E’ in questo stesso bagno che il figlio di venti anni mette alla prova la vanità dei suoi muscoli, vede che deve lavorare un pò di più sui suoi pettorali, prova il suo sorriso ai lati della bocca, resta con uno sguardo serio e profondo che vuole usare più tardi con quella signora ben più anziana di lui, ma ancora piena di fascino e promesse. E’ qui che la figlia di 17 anni viene a leggere il biglietto segreto ricevuto dal cugino, i sui sentimenti non sono sospettati dal resto della famiglia. Ha già letto la lettera prima, in vari posti, ma qui c’è tempo e solitudine necessaria per degustarla e desiderarla. E’ qui che viene a verificare un certo dettaglio fisico che è stato commentato in strada, quando passava vicino ad un gruppo di muratori, commento che al momento aveva ascoltato con un misto di paura e disprezzo.

E’ qui che la padrona di casa, la madre di famiglia, un tanto consumata dagli anni, viene a piangere silenziosamente nel giorno in cui scopre e sospetta un tradimento, un errore o un’intenzione insensata da parte del marito, del figlio, della figlia, dei fratelli. Qui nessuno saprà, nessuno si sorprenderà, può amareggiarsi fino a singhiozzare per uscire, dopo alcuni momenti, pronta e tranquilla, con l’anima lavata e il viso idem, per affrontare sorridente gli altri esseri misteriosi e distanti che vivono nello stesso lare.

Non c’è, infine, chi non abbia mai fatto una smorfia equivoca allo specchio del bagno, né esiste chi non abbia mai avuto un pensiero geniale nel sentire sul proprio corpo il primo getto d’acqua fredda. Qui abbiamo pace per l’autocritica, la nudità necessaria per il sentimento frustrato che i nostri corpi non siano stati creati per le ambizioni delle nostre anime, qui entriamo sporchi e usciamo puliti, qui miglioriamo quel poco che ci è dato migliorare, usciamo più freschi, più puri, meglio disposti.

Il bagno è ciò che resta di impenetrabile per l’anima e il corpo dell’uomo moderno, e volesse Dio che Le Carbousier o Niemeyer non pensassero di farlo anche di vetro, come soluzione totale allo spirito di un’umanità ogni volta più solitaria, senza il necessario e appassionante sentimento della solitudine occasionale.

Qui, in questo palco sul quale siamo gli unici attori e spettatori, in questo tempio che serve allo stesso tempo agli dei del narcisismo e a quelli dell’umiltà è che la civiltà odierna troverà la sua massima espressione, il suo ultimo specchio propriamente detto.

Xantipa, che diamine, passami questo asciugamano!


O Banheiro

Não é o lar o último recesso do homem civilizado, sua última fuga, o derradeiro recanto em que pode esconder suas mágoas e dores. Não é o lar o castelo do homem. O castelo do homem é seu banheiro. Num mundo atribulado, numa época convulsa, numa sociedade desgovernada, numa família dissolvida ou dissoluta, só o banheiro é um recanto livre, só essa dependência da casa e do mundo dá ao homem um hausto de tranquilidade.

É ali que ele sonha suas derradeiras filosofias e seus moribundos cálculos de paz e sossego.

Outrora, em outras eras do mundo, havia jardins livres, particulares e públicos, onde o homem podia se entregar a sua meditação e a sua prece. Desapareceram os jardins particulares, pois o homem passou a viver montado em lajes, tendo como ilusão de floresta duas ou três plantas enlatadas que não são bastante grandes para ocultar seu corpo da fúria destrutiva da proximidade forçada de outros homens. Não encontrando mais as imensidões das praças romanas que lhe davam um sentido de solidão, não tendo mais os desertos, hoje saneados, irrigados e povoados, faltando-lhe as grutas dos
companheiros de Chico de Assis, onde era possível refletir e ponderar, concluir e amadurecer, o homem foi recuando, desesperou e só obteve um instante de calma no dia em que de novo descobriu seu santuário dentro de sua própria casa: o banheiro.

Se não lhe batem à porta outros homens (pois um lar, por definição, é composto de mulher, marido, filho, filha e um ou outro parente, próximo ou remoto, todos com suas necessidades físicas e morais, ele, ali, e só ali, por alguns instantes, se oculta, se introspecciona, se reflete, se calcula e julga. Está só consigo mesmo, tudo é segredo, ninguém o interroga, pressiona, compele, tenta, sugere, assalta.

Aqui é que o chefe da casa, já passando dos quarenta anos, olha os cabelos já grisalhos, os claros da fronte, e reflete, sem testemunhas nem cúmplices, sobre os objetivos negativos da existência que o estão conduzindo, embora bem sucedido na vida prática, a essa lenta degradação física. Examina com calma sua fisionomia, põe-se de perfil, verifica o grau de sua obesidade, reflete sobre vãs glórias passadas e decide encerrar definitivamente suas pretensões sentimentais, ânsia cada vez maior e mais constante num mundo encharcado de instabilidades.

É nesse mesmo banheiro que o filho de vinte anos examina a vaidade de seus músculos, vê que deve trabalhar um pouco mais seus peitorais, ensaia seu sorriso de canto de boca, fica com um olhar sério e profundo que pretende usar mais tarde
naquela senhora bem mais velha do que ele, mas ainda cheia de encantos e promessas. É aqui que a filha de 17 anos vem ler o bilhete secreto que recebeu do primo, cujos sentimentos são insuspeitados pelo resto da família. Já leu a carta antes, em vários lugares, mas aqui tem o tempo e a solidão necessários para degustá-la e suspirá-Ia. É aqui também que ela vem
verificar certo detalhe físico que foi comentado na rua, quando passava por um grupo de operários de obras, comentário que na hora ela ouviu com um misto de medo e desprezo.

É aqui que a dona de casa, a mãe de família, um tanto consumida pelos anos, vem chorar silenciosamente no dia em que
descobre ou suspeita de uma infidelidade, erro ou intenção insensata por parte do marido, filho, filha, irmãos. Aqui ninguém saberá, ninguém a surpreenderá, pode amargurar-se até os soluços e sair, depois de alguns momentos, pronta e tranqüila, com a alma lavada e o rosto idem, para enfrentar sorridente os outros misteriosos e distantes seres que vivem no mesmo lar.

Não há, em suma, quem não tenha jamais feito uma careta equívoca no espelho do banheiro, nem existe ninguém que nunca tenha tido um pensamento genial ao sentir sobre seu corpo o primeiro jato de água fria. Aqui temos a paz para a autocrítica, a nudez necessária para o frustrado sentimento de que nossos corpos não foram feitos para a ambição de nossas almas, aqui entramos sujos e saímos limpos, aqui nos melhoramos o pouco que nos é dado melhorar, saímos mais frescos, mais puros, mais bem dispostos.

O banheiro é o que resta de indevassável para a alma e o corpo do homem moderno, e queira Deus que Le Corbusier ou Niemeyer não pensem em fazê-lo também de vidro, numa adaptação total ao espírito de uma humanidade cada vez mais gregária, sem o necessário e apaixonante sentimento da solidão ocasional.

Aqui, neste palco em que somos os únicos atores e espectadores, neste templo que serve ao mesmo tempo ao deus do narcisismo e ao da humildade, é que a civilização hodierna encontrará sua máxima expressão, seu ultimo espelho que é o propriamente dito.
Xantipa, que diabo, me joga essa toalha!

 

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 MILLOR FERNANDES

*traduzione non ufficiale

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