Il Poeta e il Mare
Non so, non ricordo quando e dove conobbi Dorival Caymmi per la prima volta e per la prima volta abbiamo riso insieme per la nostra allegria. Fu, con certezza, a Bahia, prima della partenza dell'ita (una nave), che ci portò - apprendista compositore e apprendista scrittore - a Rio per tentare di svolgere i nostri ruoli. In quel periodo, chi volesse un posto al sole doveva cominciare dal sacrificio d'uscire dalla propria terra, la terra di Bahia, dove eravamo liberi adolescenti nei mercati e nelle spiagge. Solo a Rio c'era l'ambiente e l'opportunità. Nella spiaggia di Itapua, nelle malizie del Rio Vermelho, nelle salite dell'antica città crebbe il piccolo Dorival, figlio di Seu Durval, modesto funzionario statale, buona chitarra e buon orecchio. Crebbe così il ragazzotto Caymmi, nella pesca, nella serenata, nella festa del quartiere, nel samba de roda, nei terreiros de santo (luoghi sacri), vivendo ogni istante della sua città e della sua gente, alimentandosi della sua realtà e del suo mistero, preparandosi per essere poeta o cantante. Cuore libero e desiderio di creare. La musica popolare brasiliana non era ancora argomento di gazzette, riviste e festival. Il ragazzo baiano, intanto, non desiderava nè il titolo di dottore nè il posto pubblico promesso, voleva solo comporre e cantare. Dovette partire per migliorare la vita difficile.
In quei tempi andati via del 1936 il mondo era nostro nelle strade di Rio de Janeiro, sono passati già più di 30 anni. Una canzone che abbiamo fatto insieme in quel periodo, E Doce Morrer no Mar, presa da una scena di Mar Morto, continua ad essere popolare ancora oggi e si potrebbe affermare: ogni volta di più. O meglio, ecco una delle caratteristiche fondamentali della musica di Caymmi: la sua continuità, la sua costante attualità.
Essendo il suo tema Bahia, la sua vita, il suo popolo, il suo dramma, la sua lotta, il suo mistero, la sua poesia, i suoi amori, la mora di Itapua e le rose d'aprile, Iemenjà e il vento dell'oceano, la jangada e il saveiro (due tipi di barche di piccole dimensioni), il mondo di Bahia, non c'è una sua frase, un'unica, di musica o poesia, che sia accidentale, che derivi dalla moda, da un'influenza momentanea.
Non compose troppo, secondo il sapore del successo e della novità. Ogni sua canzone è ispirazione vera e esperienza vissuta, è suo sangue e sua carne, è sua verità. Una sarà più bella, l'altra più profonda, quella più facile, ma nessuna risulta dalla ricerca del successo o dello sfruttamento di qualunque circostanza.
Caymmi impegna mesi e mesi lavorando su ognuna delle sua canzoni e dei suoi testi, al sapore del tempo e della pigrizia baiana e creatrice. Secondo ciò che diceva Sergio Porto, la musica di Caymmi deve molto a questa pigrizia, o meglio: a questo periodo d' ozio di dimensioni tanto grandi, questo tempo baiano. Di tutto ciò ne posso dare la testimonianza, perché in questi 30 e tanti anni io vidi comporre senza riposo, ma senza fretta, vidi anche nascere e crescere la maggior parte delle sue composizioni più famose. Nella mia casa - in varie delle case dove ho vissuto - lui lavorò e creò. Mai stimolato da compromesso o intenzioni derivanti da vantaggi immediati.
Per Caymmi la moda non esiste. Io posso parlare, posso testimoniare come nessuno, insieme percorremmo molta strada, insieme creammo qualcosa, insieme cominciammo ad invecchiare. Insieme facemmo teatro, cinema, trattammo il libro e la partitura, abbiamo suonato la vita e l'amore. Amicizia di tutta una vita, "mio fratello, mio fratellino".
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O poeta e o mar, facente parte della collezione Nova História da Música Popular Brasileira (Abril Cultural, 1970).
O poeta e o mar
Não sei, não recordo quando e onde conheci Dorival Caymmi pela primeira vez e pela primeira vez rimos juntos nossa alegria. Foi, com certeza, na Bahia, antes da partida do clássico ita, levando-nos – ao aprendiz de compositor e ao aprendiz de escritor – para tentar exercer nossos ofícios no Rio. Naquele tempo, quem quisesse um lugar ao sol tinha de começar pelo sacrifício de sair de sua terra, a terra da Bahia, onde éramos livres adolescentes nos mercados e nas praias. Só no Rio havia ambiente e oportunidade.
Na praia de Itapuã, nas malícias do Rio Vermelho, nas ladeiras da cidade antiga cresceu o menino Dorival, filho de Seu Durval, modesto funcionário estadual, bom de violão e no trago. Cresceu assim o moço Caymmi, na pesca, na serenata, na festa de bairro, no samba de roda, nos terreiros de santo, vivendo cada instante de sua cidade e de sua gente, alimentando-se de sua realidade e de seu mistério, preparando-se para ser seu poeta e seu cantor. Livre coração e o desejo de criar. A música popular brasileira não era ainda assunto de gazetas, revistas e festivais. O moço baiano, no entanto, não desejava nem o título de doutor nem o emprego público prometido, queria tão-somente compor e cantar. Teve de partir para ganhar a vida difícil.
Naqueles idos de 1936 o mundo era nosso nas ruas do Rio de Janeiro, lá se vão mais de 30 anos. Uma canção que fizemos juntos naquela época, É doce morrer no mar, tirada de uma cena de Mar Morto, continua popular até hoje e pode-se mesmo dizer: cada vez mais. Aliás, eis uma das características fundamentais da música de Caymmi: sua permanência, sua constante atualidade.
Sendo seu tema a Bahia, sua vida, seu povo, seu drama, sua luta, seu mistério, sua poesia, seus amores, a morena de Itapuã e as rosas de abril, Iemanjá e o vento do oceano, a jangada e o saveiro, o mundo da Bahia, não há uma frase sua, uma única, de música ou poesia, que seja circunstancial, que derive da moda, de uma influência momentânea.
Não compôs demais, ao sabor do sucesso e da novidade. Cada música sua é inspiração verdadeira e experiência vivida, é seu sangue e sua carne, é sua verdade. Uma será mais bela, outra mais profunda, aquela mais fácil, mas nenhuma resulta da busca do sucesso ou do aproveitamento de qualquer circunstância.
Caymmi leva meses e meses trabalhando cada uma de suas músicas e letras, ao sabor do tempo e da preguiça baiana e criadora. Segundo dizia Sérgio Porto, a música de Caymmi muito deve a essa preguiça, ou melhor: a esse tempo de lazer de medida tão larga, esse tempo baiano. De tudo isso posso dar testemunho, pois nesses 30 e tantos anos eu o vi compor sem descanso, mas sem pressa, vi também nascer e crescer a maioria de suas composições mais famosas. Em minha casa – em várias das casas onde vivi – ele trabalhou e criou. Jamais espicaçado por compromisso ou intenção imediatista.
Para Caymmi a moda não existe. Eu posso dizer, posso testemunhar como ninguém. Juntos andamos um bom bocado de caminho, juntos criamos alguma coisa, juntos começamos a envelhecer. Juntos fizemos teatro, cinema, tratamos o livro e a partitura, tocamos a vida e o amor. Amizade de toda a vida, “meu irmão, meu irmãozinho”.
O poeta e o mar, na coleção Nova História da Música Popular Brasileira (Abril Cultural, 1970).