Apólogo: O Carro e o Burro Um touro, não amestrado No exercício de carreiro, Num falso passo que deu Pôs o carro no lameiro. Conhecendo esse embaraço, Procurou sair de modo, Que ao menos salvasse a vida, Visto o carro estar no lodo. Alguns animais, passando No desastroso lugar, Tentaram, mas não puderam Do charco o carro tirar. Até que um burro já velho, Cheio de louca vaidade, Cuidou ser esse o momento De ganhar celebridade. — A que vás lá? — Disse um desses Que pastavam por aí: Deixa vir quem disso entenda; Que isso não é para ti. — "Tu falas antes de tempo; Disse o burro ao que o arguia: Vou mostrar-te o quanto posso; Muito alcança quem porfia." Vejam só o que é ser burro Por instinto e natureza! Não mediu as suas forças, Nem viu do carro a grandeza. Zurrando, e dando patadas, Foi meter-se no atoleiro; Entre os varais colocou-se, E o pescoço pôs no apeiro. Mas para fazer tais cousas Foi necessário agachar-se; Atolou-se até o ventre Quando tentou levantar-se. Como o terreno era fofo, Tendo já mil voltas dado, Tentou safar-se do jugo, E o carro deitou de lado. O pobre burro entre as varas Virou de pernas para o ar; Todo de lama coberto Começou a espernear. Isto aos burros acontece, Que se esquecem do que são E se não por nós responda A geral opinião. Quantos o carro do Estado Querem guiar mui lampeiros, E por trancos e barrancos, Dão com ele em atoleiros? | Apologo: il Carro e l’Asino Un bue, non addestrato Al tiro, Con un passo falso, Pose il carro nel pantano. Conoscendo questa difficoltà, Cercò di uscire in un modo, Che almeno gli salvasse la vita, Visto che il carro era nel fango. Alcuni animali, passando Sul funesto luogo, Tentarono, ma non potettero Dal pantano il carro tirare. Sino a quando un asino già vecchio, Pieno di pazza vanità, Pensò esser questo il momento Per guadagnare celebrità. - Chi va là? – Disse a uno di loro Che pascolava lì vicino: Lascia andare chi ne capisce; Che questo non fa per te.- “Tu parli prima del tempo; Disse l’asino a chi lo giudicò: Riesce molto chi insiste.” Vedi solo cos’è esser asino Per istinto e natura! Non misurò le sue forze, Nè vide del carro la grandezza. Ragliando e dando zampate, Si buttò nel pantano; Tra le assi si posizionò, E il collo pose nel giogo. Ma per fare tali cose Fu necessario abbassarsi; Sprofondò sino al ventre Quando tentò di alzarsi. Siccome il terreno era morbido, Essendosi girato mille volte, Tentò di liberarsi dal giogo, E il carro si ribaltò di lato. Il povero asino tra le assi Rimase a zampe all’aria; Tutto coperto di fango Cominciò ad agitarle. Questo accade agli asini, che si scordano di esser ciò che sono E se non è così, risponda per noi L’opinione generale. Quanti il carro dello Stato Vogliono guidare molto prima del tempo, E con molta difficoltà, Finiscono con questo nei pantani?
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